Construída no início dos anos 1990 por um ex-designer da MV Agusta, a Ferrari 900 é, até hoje, a única motocicleta a conter o logotipo da marca de Maranello de forma oficial.
As origens da única motocicleta Ferrari existente remontam o final dos anos 1980. David Kay, um engenheiro britânico que havia se notabilizado como “guru da MV Agusta” estava desenvolvendo um modelo sozinho e tinha um plano ambicioso. Convencer Enzo Ferrari a ingressar no universo das duas rodas.
Infelizmente o Comendador, já com 90 anos de idade, veio a falecer em 14 de agosto de 1988 atrapalhando os planos de Kay. O projeto, no entanto, continuou em sua própria empresa, a Kay Engineering. A motocicleta teria um motor de quatro cilindros para berrar como um Fórmula 1.
Por volta de 1990, Kay resolveu abordar o herdeiro de Enzo, Piero Lardi. O engenheiro escreveu uma carta ao único filho do comendador vivo solicitando a construção de uma motocicleta única ostentando o famoso distintivo do cavalo rampante em tributo ao seu falecido pai.
Para a surpresa de Kay, Pietro acenou positivamente. O então presidente da Ferrari respondeu com outra carta em 23 de maio de 1990 concedendo-lhe a “aprovação para colocar o emblema da Ferrari em sua moto”, além do desejo de “boa sorte com seu projeto”.
Com a bênção Ferrari garantida, Kay debruçou-se sobre o design. Partindo completamente do zero, o engenheiro buscou inspirações no futuro e no passado, atendo-se ao fato de que Enzo havia começado a correr em uma moto de dois tempos Scott nos anos 1930. Mais de 3.000 horas de trabalho foram empregadas para conceber um protótipo chamado de SF-01M.
O trabalho só foi completado em 1995 e não deixa dúvida sobre a inspiração passadista da motocicleta. A bolha que cobre o painel, o tanque longo e a rabeta parecem ter saídos de alguma corrida de motos dos anos 1960 e contrastam fortemente com o conjunto motriz, em sintonia com o que era produzido no início dos anos 1990.
Construída inteiramente à mão, a agora chamada Ferrari 900 possui em seu ‘cuore’ um motor tetracilíndrico em linha de 901 cm³, com duplo comando de válvulas e refrigeração a ar. O câmbio tem cinco marchas e o escapamento quatro saídas, duas de cada lado, que produzem “o som de um Messerschmitt perseguindo um Spitfire“, de acordo com Kay.
A potência declarada é de 105 cv a 8.800 rpm, bem impressionantes para a época, ainda mais se considerarmos seu baixo peso (apenas 172 kg) e ausência de auxílios eletrônicos. Embora nunca tenha sido testada oficialmente, a velocidade máxima estimada é de 265 km/h, com um zero a 100 em menos de três segundos.
O quadro é uma peça do tipo berço duplo de aço fornecido pela Reynolds 531, já obsoleto para uma máquina topo de linha em 1995. Nas suspensões, a Ferrari 900 monta bengalas invertidas Forcelle Italia na dianteira e um par de amortecedores WPS – igualmente datados – na traseira. Por outro lado, as peças da carroceria são todas de alumínio.
Como não poderia deixar de ser, a frenagem ficou a cargo da Brembo, parceira de longa data da Ferrari nas pistas e nas ruas. Os dois discos dianteiros são mordidos por pinças de seis pistões, enquanto que o traseiro faz o serviço com quatro pinças, bem potente até hoje. As rodas de 17 polegadas também foram feitas à mão pela empresa Astralite.
Apesar de ter dominado os noticiários na época de seu lançamento, a Ferrari 900 não despertou interesse o suficiente para que a marca passasse a produzi-la em série. Desde então, trata-se de um exemplar único e que passou 17 anos na sala de estar de um colecionador britânico.
Nos últimos anos, a Ferrari 900 apareceu algumas vezes em leilões arrecadando menos do que sua exclusividade sugere. Em sua última aparição, a motocicleta foi arrematada por apenas € 104.660 euros, o equivalente a R$ 460.500 reais hoje. O design divide opiniões, e o fato de não ter sido montada em Maranello pesa. Você gostaria que a Ferrari produzisse motos?