Na semana passada, Honda, Yamaha, Kawasaki e Suzuki anunciaram uma inédita parceria para desenvolver hidrogênio como forma de alimentar as motocicletas a combustão nas próximas décadas. Pois ainda há muitas questões a serem resolvidas.
Na indústria automobilística, motores elétricos adquiriram um certo “status verde” entre aqueles que podem pagar pelo alto preço desses carros. Mas não existe tendência semelhante entre os motociclistas, além dos usuários de scooters, aqueles que estão nessa por mera praticidade.
Apesar de vozes corporativas afirmarem que as baterias continuam a melhorar continuamente, o fato é que elas continuam pesadas demais para uma motocicleta, demoradas demais para recarregar, com pontos de recarga difíceis de encontrar e simplesmente não tem o mesmo apelo.
E mesmo que novas tecnologias surjam é necessário calcular o fluxo de energia necessário e a corrente elétrica que seria necessária. Imagine, por exemplo carregar 80% da capacidade de armazenamento de energia de 88 kWh de uma bateria automotiva em 10 segundos.
Isso exigiria o fornecimento de 70 kW por uma hora, que é uma potência equivalente a cerca de 94 cv. Uma potência 360 vezes maior se planejarmos carregar a bateria em 10 segundos (há 3.600 segundos em uma hora, então 360 é o número dividido pelo nosso tempo de recarga de 10 segundos). Isso equivaleria a uma taxa de fluxo de energia igual a 94 cv x 360= 33.840 cv.
Um disjuntor doméstico de 200 amperes e 240 volts fornece 48.000 watts de potência, equivalente a 48.000/746 = 64 cv. Uma recarga de 10 segundos exigirá, portanto, 33.840/64 = 528 serviços elétricos domésticos, todos operando a 100% de sua capacidade.
É preciso pensar em outra solução mais prática. Mas se no Brasil, o bom e velho etanol está aí na cara de todos, no Japão eles veem o hidrogênio como resposta, já que motores de combustão interna podem ser convertidos com relativa facilidade para funcionar com combustíveis gasosos como este.
Enquanto gasolina e diesel liberam o tóxico gás carbônico na atmosfera, o motor movido a hidrogênio libera água. Isso permitiria a continuidade da utilização de ferramentas de produção de motores existentes (exceto a adaptação ao combustível) agradando gregos e troianos.
Parece formidável, mas o hidrogênio tem os seus problemas também, e o principal deles é que não existem agora instalações para sua produção em larga escala a partir de fontes não petrolíferas ou para sua ampla e conveniente distribuição.
Para ser completamente zero emissões, as corporações esperam produzir o hidrogênio a partir do excesso de eletricidade da energia eólica e solar. Só que esse “excesso” também não existe atualmente. Através de energia nuclear, cerca de 400 reatores seriam necessários para abastecer todo o planeta.
Na verdade, o hidrogênio é considerado um portador de energia e não uma fonte de energia. Isso porque a liberação do elemento da água por eletrólise requer que seja investida a mesma energia que é realizada mais tarde, quando ele volta a ser utilizado para produzir energia.
Outra desvantagem do hidrogênio é que o seu armazenamento requer um grande volume. Em sua forma líquida, o elemento precisa de um isolamento extremo para evitar que ferva antes de podermos usá-lo e contém apenas um quarto da energia por volume da gasolina.
Por exemplo, se a motocicleta tiver um tanque de 4 galões (15 litros) será necessário um tanque de 4×4= 16 galões (60 litros) para transportar a mesma quantidade de combustível em forma de hidrogênio líquido. Adicione a isso o volume necessário de isolamento.
Seu manuseio também não é simples. Resfriar e comprimir o hidrogênio para a forma líquida a -252,7 graus Celsius consome uma energia igual a 30% do que está contido no hidrogênio. Talvez a saída seja o elemento em sua forma gasosa, em tanques de alta pressão a 5.000 ou 10.000 psi…
Existem outras maneiras de absorver hidrogênio, como materiais sólidos e soluções químicas. Mas é por isso que o big four japonês está formando uma associação de pesquisa, para ver se existe uma maneira de torná-lo viável para alimentar nossas futuras motos.